8 de jul. de 2010

Preconceito no mundo fotográfico

   Essa semana tive a oportunidade de fotografar um desfile de um conhecido estilista gaúcho. O desfile foi lindo, as roupas de tirar o fôlego, uma produção ótima, e no final da passarela o costumeiro grupo de fotógrafos a postos para registrar cada look. Ok, se se tratasse de uma semana de moda de Milão, uma SPFW, até entendo que o espaço é disputado e todos querem a melhor posição, central, para suas fotos. Mas nesse desfile havia espaço de sobra para os fotógrafos que alí se encontravam, eu incluída. Não havia a necessidade de grosseria. Ou assim eu pensava.

    Um fotógrafo com mais experiência profissional que eu (em anos de trabalho - e de vida) cujo nome obviamente não vou citar aqui, estava ao meu lado. Carregava uma câmera Nikon ou Canon, pra variar, e uma lente teleobjetiva estilo canhãozinho. Sentou-se num degrau para fazer suas fotos. Justo ao seu lado tinha uma pessoa filmando o desfile, câmera num tripé. Para não ficar tão de canto me situei abaixo da filmadora e ao lado do tal sujeito. Só que o meu erro, pelo visto, foi não possuir uma super lente tele. Isso imediatamente significou que eu não era uma profissional, só uma guria qualquer metida a fotógrafa, e portanto não merecia um bom ângulo para fotografar. Nem o respeito dele. Quando estava no meio de uma foto, câmera em posição, sinto um empurrão na perna. Olho pra baixo, surpresa, ele estava fotografando, imaginei que teria batido em mim sem querer, mesmo assim cheguei um pouco mais para o lado, ainda que eu não estivesse de modo algum obstruindo sua visão, mais ainda porque ele estava com a tele e seu ponto de foco estava bem adiante. Dalí a 5 min, um empurrão mais forte e quando olhei para baixo ele murmura algo e faz um gesto com a mão, me enxotando, como quem afasta um gato vira-lata abusado do Café do Lago que chegou perto demais do seu waffle. 
    Fiquei tão chocada com a falta de respeito daquele senhor que somente cheguei para o canto, perdendo o melhor enquadre das fotos, e não falei nada. A música alta e a ação se desenrolando me impediram, e eu também faço de tudo para evitar uma briga, ainda mais com uma pessoa do mesmo ramo profissional que eu. Sim, eu estou começando agora. Não, eu não sou conhecida, eu não dei entrevista para jornal, eu não conheço pessoas influentes da sociedade Portoalegrense (que, regionalismos à parte, é uma sociedade ainda bastante provinciana e baseada em sobrenomes "importantes" e status social, muitas vezes esquecendo da educação e respeito aos que não fazem parte do grupinho). Mas eu tenho educação, eu tenho uma pós-graduação na Espanha, eu tenho conhecimento de fotografia e eu tenho talento e um bom olho. Realmente é justo me julgar - e me descartar - porque eu não carrega uma super câmera e uma lente canhão último modelo? Porque a minha câmera é uma Sony, ainda que das últimas lançadas e melhor que muita Canon e Nikon por aí (e falo com conhecimento de causa, por já ter feito testes e comparado resultados)? 
   Então terminou o desfile, e ainda assim eu não o confrontei. As fotos já tinham sido feitas, eu tinha pessoas com quem falar, um estilista a cumprimentar. E eu não quis um confronto na frente das pessoas. Talvez eu tenha agido errado. Talvez eu tenha sido covarde. E eu me deixei intimidar por aquele homem, pela autoridade que ele passava. Até chegar em casa e buscar seu nome na internet, encontrar seu site e conferir o seu trabalho. E descobrí que não, ele não é melhor que eu. Ele pode ter uma lente melhor, talvez uma câmera melhor, eu não me lembro do modelo. Ele pode ter mais tempo de trabalho que eu. Mas suas fotos não são melhores que as minhas. Ele não tem o talento que eu tenho. Se ele fosse mesmo um cara tão bom, ele saberia que é uma estupidez julgar um fotógrafo pelo equipamento que ele utiliza, que muitos dos grandes fotógrafos que conhecemos começaram com câmeras simples e mesmo depois de possuir condições de ter um equipamento de última geração eram perfeitamente capazes de fazer fotos incríveis com uma simples compacta, e o fizeram. E o mais irônico disso tudo é que é a primeira vez que eu consigo dizer em voz alta, mais, escrever aqui, para quem quiser ler, que eu realmente tenho talento, que eu sou boa no que faço, que minhas fotos são notáveis. Que eu mereço me valorizar e valorizar meu trabalho sem me encolher para qualquer um com credenciais mais tarimbadas que as minhas e um ar arrogante na cara.




    ... Acho que no fim até as coisas ruins têm mesmo seu lado bom...

2 de jul. de 2010

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    Impressionante como em 72 horas minha vida virou de cabeça para baixo. Num minuto eu estava em Mallorca, encantada com aquele paraíso, aquelas praias de sonho, o mar do azul mais incrível, e de repente uma notícia muda toda minha vida, ceifa meus planos e me faz voltar desesperada ao Brasil, rezando para que ainda seja em tempo, que não seja tarde demais. 
   Cheguei justo a tempo de me despedir dele, meu avô amado, responsável por muitos dos melhores momentos da minha vida, a infância mais especial, viagens e piqueniques, histórias antes de dormir, almoços regados à gargalhadas, passeios no shopping e mimos, e o mais importante, amor e carinho constante, incondicional...
   Eu não estava pronta para isso. Eu esperava ter mais tempo com ele. Tantas coisas para dizer, tanto a contar, dividir, perguntar, mostrar. Uma vida inteira grudados, sempre tão próximos, e justo quando eu fico 9 meses longe, a primeira e única vez na minha vida que faço isso, ele se vai. Não dá pra descrever o que eu sentí.

    Então, isso quer dizer que estou de volta ao Brasil, de vez, não serei mais Vick Barcelona, mas pretendo continuar escrevendo aqui, não com notícias do mundo fotográfico europeu, mas no Brasil também se está fazendo muita coisa interessante na área da fotografia e eu pretendo continuar informando meus leitores, além de mostrar algumas das fotos acumuladas nesse tempo todo fora, e são muitas! As que vou botar aqui agora são em homenagem a meu querido avô, que foi o melhor avô do mundo, sem dúvidas. Ele sempre foi muito católico, e essas imagens mostram um pouco disso, a fé, orações, Deus. Essas são para tí, Farjat. Espero que de onde estejas me vendo nesse momento, isso te faça feliz. 

   Que descanses em paz. Te amo e sentirei tua falta cada dia de minha vida.